Dependência Química

Tércio Vieira Camargo

Falar sobre o envolvimento familiar na dependência química é falar do ponto nevrálgico da questão. Isto porque o papel da família é fundamental para o engajamento do usuário de drogas em um tratamento e também após o tratamento, a manutenção da abstinência. Além disso, é de consenso da comunidade científica que alguns fatores familiares estão interligados ao uso e abuso de drogas, como por exemplo: a presença do modelo de drogadição tanto pelos pais, como em membros das gerações anteriores – aqui se inclui o uso de cigarro e álcool; também a instabilidade familiar, no sentido da fragilidade de apoio da família para seus membros.

Um ponto importante a se destacar está na dificuldade da família identificar que um de seus membros está fazendo uso de drogas, e quando isto acontece muitas vezes a situação já está delicada e complexa. O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é desconcertante e traz um mal estar muito grande no seio familiar. Segundo Neliana Figlie este impacto pode ser descrito através de quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa: o primeiro é o mecanismo de negação, onde ocorre tensão e desentendimento e não se fala sobre o assunto; o secundo a família passa a tentar controlar o uso da drogas e as conseqüências destes. Há muita mentira e cumplicidade com um clima de segredo familiar sobre o assunto, e a ilusão de que não há problemas na família; o terceiro é uma desorganização enorme na família. Os membros assumem papéis rígidos e previsíveis. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as conseqüências do abuso de álcool e drogas; o quarto estágio é o da exaustão emocional, deixando a situação insuportável, proporcionando o afastamento de seus membros e gerando a desestruturação familiar. É claro que nem todas as famílias obrigatoriamente passaram por este processo.

Outro fato a considerar é a dificuldade que o usuário tem de reconhecer seu problema e conseqüentemente pedir ajuda para a família. Neste ponto é importante a família intervir com firmeza, mostrando as conseqüências negativas presentes na vida do usuário e conduzindo-o a uma conscientização de que precisa de um tratamento. Muitas famílias são ambivalentes neste ponto, ou seja, alguns são a favor de um tratamento, outros acham que é “sem-vergonhice” do sujeito e que ele precisa tomar “vergonha na cara” e parar de usar. Se o uso de drogas se tornou freqüente e fugiu ao controle o consumo é sem sombra de dúvidas a necessidade de um tratamento. Quanto o usuário pede ajuda à família, esta deve acolhê-lo e prontamente encaminhá-lo a serviços de tratamento de drogadição, onde a internação é uma opção a ser avaliada.

Por fim, a grande dificuldade das famílias compreenderem é que terá um papel essencial no tratamento de seu membro e que esta mesma deverá buscar alguma forma de ajuda e terapia, pois a dependência química acaba desorganizando a estrutura familiar e mobilizando estados emocionais prejudiciais, que precisam serem ajustados e re-organizados.

Texto Publicado no Jornal do Cervin

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